É difícil reconhecer... é quase impossível perceber o que não se mostra... Mais complicado ainda é manter posturas inabaláveis quando se permite ser compreensiva demais, ou quem sabe ingênua e romântica demais. Tenho apenas 24 anos e, ao longo desse tempo, convivi com aprendizados cruéis dentro de mim mesma - nem sempre causados pela vontade, mas quase sempre pela falta de vontade alheia. Não fui a única, eu sei. Mas a sensação de solidão sempre me assustou, e só posso falar por mim. Tento não travar batalhas com ela. Ao contrário, busco ser amiga, como uma forma de juntar-me ao que não posso combater. Sei também que sou forte. Sim, sempre fui e serei. Lá no fundo, guardo a força dos 300 de Esparta. Só não queria precisar usá-la tanto. Por que será tão difícil ter uma vida leve e o coração tranqüilo?
Não me incomodo em conviver apenas com a minha essência, mas confesso que meu carinho e cuidado comigo mesma, apesar de grandes, não me bastam, e ter somente diálogos internos não me distrai tanto. A vida tem que ser mais emocionante! Preciso ter outras pessoas com quem me preocupar, historias e mundos para me envolver! Além disso, sempre terei o prazer do ‘autoconvívio’, independente de estar só comigo ou não. Quando precisar e desejar o isolamento, posso reservar um tempo para isso. É importante também, assim como o silêncio, a pausa, a reflexão e a evolução pessoal dele decorrentes. Mas gosto de estar rodeada de pessoas, de risos, de afeto, de interações sociais e, sobretudo, de AMOR. Será que ainda se sabe o que é isso?
Essa coisa toda de autossuficiência que marca os tempos modernos - e é pregada pelo mundo afora - pode parecer fazer todo sentido, mas, apesar de ser apontada por muitos como a realidade que deve ser encarada, para pessoas como eu é apenas algo surreal e distante. Não vou nem dizer que, em alguns casos, apenas mascara a incapacidade de amar e de se doar de certas pessoas, como um egoísmo disfarçado, uma indisposição ao desapego ao seu próprio mundo e à permissão para o compartilhamento. As pessoas precisam aprender a respeitar as soluções de cada um. Generalizações quase sempre são perigosas e injustas, como já se sabe. Entendo que nem todo mundo reage da mesma forma aos mesmos estímulos e é por isso que vivo acreditando que a beleza da diversidade – ironicamente, tão apregoada pelos que defendem o estilo de vida autossuficiente - também se manifesta no campo das emoções. Acho feio que qualquer um seja condenado por ser romântico ou por sonhar com o “amor da sua vida”. Da mesma forma, acho péssimo que se julgue uma pessoa simplesmente por lutar pelo que o seu coração deseja, ao invés de ser puramente racional.
Pelo amor de Deus! É preciso entender que os corações se expressam em vocabulários diferentes e, assim sendo, não há posturas ou atitudes que sejam plenamente eficazes. A única linguagem universal é o amor, porque ele se sobrepõe à maioria dos eventos negativos, quando verdadeiro. Isso significa dizer que as análises de todas as situações deveriam ser relativizadas antes de se iniciarem os “conselhos” generalistas e com aquela pitada irritante de autoajuda sobre autoestima, se amar, se respeitar, se preservar, etc. Precisa-se ser menos insensível e observar, inclusive, que a outra pessoa poderia, sim, estar se traindo se – e somente se - agisse conforme indicação diversa à que diz seu coração, afinal, cada um sabe de si e deve, por isso, agir conforme a sua necessidade. O ritmo do aprendizado, claro, será proporcional à eficácia das atitudes, assim como as conseqüências sofridas, mas ser LIVRE é, justamente, poder escolhê-las e, nessas horas, a última coisa de que se precisa é do julgamento de quem quer que seja.
Tudo bem. Concordo que se eu optasse pelo estilo de vida 100% autossuficiente e esperasse menos da humanidade, decerto sofreria menos com decepções e desamores, mas não consigo fugir dos brados do meu interior, que me dizem, diariamente, que as pessoas foram feitas para o convívio e para estarem juntas. As conquistas pessoais não precisam estar desprendidas de tudo isso, como se fosse preciso reencarnar duas vezes em uma mesma vida para se realizar profissionalmente e emocionalmente. Então, segue a pergunta: por que razão eu deveria passar o resto dos meus dias lutando para combater o que me parece tão óbvio e natural?
Respostas possíveis:
A. porque as pessoas se desacostumaram a confiar e a merecer umas às outras?
B. porque toda a liberdade e autossuficiência que se impõem apresentam-se como alternativas tentadoras o suficiente para que se desaprenda os conceitos de amor, fidelidade e cumplicidade?
C. porque é mais cômodo ter apenas a sua vida para se preocupar e ninguém para te fazer abrir concessões?
D. todas as alternativas anteriores.
Onde foi que eu me perdi nesse raciocínio? Não! Sei que sou novinha e talvez ingênua demais e que, com o passar dos anos, ainda mudarei alguns pensamentos e passarei a ser um pouco menos sentimental. Mas, até que eu mesma me convença do contrário (o que acho bastante improvável), me recuso a me obrigar a ser menos afetuosa, romântica e sensível para me adequar a esse mundo atroz e sem amor que se apresenta. Nego veementemente a ideia de precisar deixar de acreditar que posso ser feliz ao lado de alguém que me entenda e apoie, que vibre com as minhas conquistas, me seja companheiro, fiel e transparente, que me trate como realmente mereço, tenha cuidado comigo, me admire, que não seja duro ou irracional a ponto de esperar de mim perfeição e me ame o suficiente para relevar tudo quanto é natural da condição humana, que esteja numa mesma sintonia que eu, possua os mesmos objetivos e, sobretudo, que me deixe retribuir a tudo isso sem temer o sofrimento de um possível rompimento. Esse, para mim, é o pior pecado: jogar fora um grande amor ao tentar evitar sofrer, trazendo para si e para o outro um sofrimento ainda maior e precoce - sofrimento esse que talvez nem viesse, vale ressaltar.
Infelizmente, o fato é que as pessoas se bloquearam para amar e dividir. Estão egoístas, acomodadas e ensimesmadas. Não se entregam, não confiam umas nas outras, não aceitam umas às outras como são e estão sempre à procura de alguém perfeito, como se isso existisse. Ninguém anda mais a fim de se incomodar ou fazer sacrifícios por ninguém e essa, para mim, é a maior prova da superficialidade das relações que se constroem, mas se permitem destruir na primeira ventania. Tenho amigas solteiras que gostam de sê-lo, amigas enamoradas, amigas decepcionadas, amigas autossuficientes e respeito todas elas. Mas, graças a Deus, tenho amigas que encontraram seus pares e vivem relações felizes e que as completam, logicamente com tudo o que se tem direito, inclusive os pequenos percalços do percurso. E são justamente essas que me fazem continuar acreditando e pensando que, sim, eu tenho o direito de continuar a ser quem eu sou, independente das tendências da “moda” do mundo. Simplesmente porque não acredito em falsos amores infinitos que não resistem a nada, nem em relações ditas sérias, mas que são, no fundo, muito das superficiais.
Esteja à vontade quem quiser ironizar e rotular isso de “sonhar com o príncipe encantado”. Eu prefiro chamar de “acreditar no amor e na capacidade de entendimento da humanidade”.
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