"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida", já dizia Vinicius.
O difícil é saber reconhecer a hora certa de valorizar os encontros preciosos que a vida nos proporciona. Acho que isso só é possível quando já passamos por graves desencontros ou encontros desagradáveis, que às vezes julgamos dispensáveis, ou consideramos que de nada nos serviram, além de nos subtrair a alegria. Mas isso não é verdade.
Eles têm a grande serventia de nos ensinar muitas coisas, inclusive a fixar parâmetros que nos levam a “errar” menos, e a reconhecer a importância dos encontros venturosos: aqueles mágicos e surpreendentes com pessoas que, sem fazer esforço, ao invés de nos trazer somente embriaguez e cegueira desmedidas (que sempre passam), têm o dom de nos trazer paz e nos fazer felizes.
E o melhor dos encontros é que eles se caracterizam sozinhos. Emitem sinais claros de que estão nos fazendo ou um bem inesperado e, por isso, às vezes assustador; ou um mal insistente e, por isso, às vezes acomodado. Nos falta é clareza para identificar em qual dessas situações estamos, e às vezes forças para nos livrar de costumes sentimentais fixados, ainda que não nos façam mais bem há algum tempo. Sim, porque até com a dor a gente se acostuma. É.. a ideia de mudança é sempre assustadora, porque as transições são quase sempre complicadas, sobretudo quando ocorrem internamente.
Já passei por muitos desencontros e dolorosos períodos de solidão. Sobrevivi a grandes tempestades e rompantes de tristeza e desilusão. Mas hoje, graças a cada uma das minhas decepções, consigo distinguir com clareza meridiana o que deve fazer parte da minha vida e o que deve ser apenas passado, ainda que às vezes relembrado, dentro daquelas caixinhas que a gente guarda no peito para sempre..
Resistência a mudanças todo mundo tem, mas o que eu não tenho mais é dificuldade em aceitar as mudanças que precisam ser processadas dentro de mim, nem medo de empreender esforços para isso quando considero a beleza e a validade da causa.
Agradeço a Deus por ter chegado esse momento.
Enfim.. Paz.
3 comentários:
Crescer dói, mas é inevitável... o mínimo que podemos fazer (e devemos) é aprender com nossos equívocos, deslizes e descompassos. Só assim vale à pena. Deus te inspire nesse processo todo. Bjinhus...
Meras impressões sobre a vida
“Que diremos, pois, a estas coisas?”
A vida é repleta de situações obscuras que nos foge a capacidade de compreensão.
Formulamos de maneira racional alguns conceitos para atender a necessidade interior que temos de respostas, mas acabamos num ciclo vicioso de argumentações que nos inquietam ainda mais, nada encontrando.
O tempo passa, as interrogações aumentam, e a sensação que experimentamos é de que estamos sendo esmagados e asfixiados por essa busca neurótica de explicações.
Olhamos para os retrocessos que sofremos e vamos logo pensando: Só pode ser maldição Divina.
Elaboramos e administramos no nosso interior, uma agenda macabra secreta de auto-punição indulgente, como meio de pacificação da consciência adquirida pelo conflito do ser e não querer.
Somos extremistas em analisar os fatos, e nessa audácia em transferir a responsabilidade a quem de direito, nos tornamos cada vez mais amargos, apáticos e desacreditados de que a nossa existência possa ganhar o colorido das boas coisas que ela nos reserva, com a garantia da eterna parceria do Criador.
Articulações engendradas nos porões de fuga das inquietações da alma, assombram nossa limitação em compreender e dar contorno exato as crises que se instalam sem pedir licença.
E agora o que vai ser? É o consolo que nos premia sarcasticamente.
Entre divagações e rompantes alegrias, um lampejo Divino transcende com a incumbência de nos fazer equacionar toda experiência absorvida.
Em minhas meras impressões sobre a vida, aprendi que não tenho o direito de ser seletivo tampouco menosprezar os descaminhos e viés dessa eterna tapeçaria, pois eles são a gênesi para novas dimensões.
Aprendi que não adianta fugir do enfrentamento das circunstâncias me alienando da realidade por mera frugalidade.
Aprendi que não devo desesperançar se a batalha insiste em se arrastar e me arrancar da trincheira.
Aprendi que não devo permitir que a face carrancuda das mal acabadas pinturas da alegria me roubem a energia da possibilidade de um amanhã melhor.
Aprendi que não posso delegar o intransferível, pois cabe a mim a tarefa de crescer tendo antes que diminuir para ao final poder sorrir.
Aprendi que a vida é uma caixinha de adoráveis e desagradáveis surpresas que se revezam entre si numa conspiração arquitetada com a Divina permissão de nos amadurecer.
Aprendi! que “... em todas estas coisas, somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou”.
Clarice Lispector disse:
"O que nos salva da solidão é a solidão de cada um dos outros..."
Eu vejo que essa unidade que existe no universo com relação aos sentimentos é que nos conforta. Afinal, se todos passamos por histórias parecidas e muitas vezes repetidas temos a capacidade de aprender com o que nasce da experiência de outros. Adorei ler você e entender que se chega a algum lugar depois da dor. E o melhor é ver que só aprende com a dor quem respeita a si e ao espanto de existir. BjÃO
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